Helder de Almeida - Violeiro

Entrelaçada ao pescoço, com a viola vem o moço
Com a voz calma e lenta, como um dia que não venta
No cantinho da calçada, feito uma alma penada
Olhar de onça assustada, no avanço da queimada

Mas quando tocou a viola, feito o vento na marola
Por um grande amor cantou e por mil que fracassou
Disse não gosta lida, só pediu água e comida
Recusou qualquer dinheiro, banho, roupa ou barbeiro

Eh! Violeiro, equilibra as cordas nos dedos
E o cara sem sorte na vida
A beata, a perdida, fez todos dançar
Eh! Violeiro, para ele amor não é brinquedo
Até o mais frio bandido
Do mais pobre ao mais rico fez se emocionar

Com sua voz exaurida e a platéia agradecida
Ele toma a cachaça que lhe é oferecida
Diz não ter mais nada no mundo que lhe toque os sentidos
Que já tem tudo que merece e tudo é que preciso

Entrelaçada no pescoço, com a viola vai o moço
Sorriso de missão cumprida e um adeus de despedida
Um galho solto no rio a deriva da corrente
Some na primeira esquina, feito uma estrela cadente